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A Schola Cantorum e o Advento



Com a graça de Deus, iniciamos mais um Ano Litúrgico.

Em seu artigo Semanal, o Sr. Bispo D. Fernando Rifan cita o Advento como

o “tempo litúrgico da expectativa do Salvador e símbolo da esperança cristã. A salvação que esperamos de Deus tem igualmente o sabor do amor. Preparando-nos para o mistério do Natal, assumimos de novo o caminho do povo de Deus para acolher o Filho que nos veio revelar que Deus não é só Justiça, mas é também e antes de tudo Amor (cf. 1 Jo 4, 8)".

Para participarmos ativamente desse espírito do Advento e estarmos conformes aos ensinamentos da Igreja sobre as Normas Litúrgicas, que envolvem o canto, com os hinos e o acompanhamento próprios desse tempo, deixamos aqui essa reflexão:

Há 16 séculos atrás, Santo Agostinho, ao definir o canto litúrgico como “profissão sonora da fé”, já fala do “canto eclesiástico” como aquele que é apto para cumprir a função litúrgica que dele se espera. "Trata-se, portanto, de uma arte essencialmente funcional, vale dizer, trata-se de música ritual". Em seu livro "Confissões", Santo Agostinho nos revela como o contato com a Schola Cantorum de seu tempo e o canto litúrgico o ajudaram a encontrar o caminho da Verdade: “Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que ecoavam em vossa Igreja! Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade de meu coração. Um grande impulso de piedade me elevava, as lágrimas corriam-me pela face, e me sentia plenamente feliz” (Confessionum 9, 6: PL 769,14.).

"Assim compreendida, a Música Litúrgica não pode ser tomada apenas como adorno ou acessório facultativo da celebração cristã da fé. Ela não é coisa que se acrescenta à oração, como algo extrínseco, mas muito mais, como algo que brota das profundezas do espírito de quem reza e louva a Deus (Instrução Geral da Liturgia das Horas, 270)

Mais ainda, a Música Litúrgica participa da natureza sacramental de toda a liturgia, da qual sempre foi e sempre será parte essencial e sua expressão mais nobre.

"O tesouro da música sacra seja conservado e favorecido com suma diligência. Sejam assiduamente incentivadas as Scholae Cantorum, principalmente junto às Igrejas catedrais. Os Bispos e os demais pastores de almas cuidem com diligência que, em todas as funções sacras realizadas com canto, toda a comunidade dos fiéis possa oferecer a participação que lhe é própria" [1]

Aos compositores, aos cantores e principalmente aos meninos cantores seja dada uma genuína formação litúrgica. Imbuídos do espírito cristão, compenetrem-se os compositores de que estão chamados para cultivar a música sacra e para aumentar-lhe o tesouro. [2]

Componham, porém, melodias que apresentem as características da verdadeira música sacra, e que possam ser cantadas não só pelos grandes coros, mas que também estejam ao alcance dos modestos e favoreçam a participação ativa de toda a comunidade dos fiéis. [3]

"As Scholae cantorum (escolas de cantores, ou simplesmente grupos corais, ou grupos de cantores), devem ser incentivadas, principalmente junto às catedrais, mas a sua existência e atuação não devem diminuir, mas, pelo contrário, promover a participação geral dos fiéis, incentivando-os ao canto dos hinos próprios do tempo, e, por que não formar pequenos coros de cunho mais popular.

Todos os fiéis, porque chamados a participar da Sagrada Liturgia, devem receber formação litúrgica, mas de modo peculiar os ministros, e entre estes os cantores, como também os compositores, hão de ter um nível destacado de formação litúrgica.

O grupo dos cantores, segundo a disposição de cada igreja, deve ser colocado de tal forma que se manifeste claramente sua natureza, Sua posição deve favorecer o desempenho de sua função litúrgica e permitir que todos os membros possam participar plenamente na Missa, inclusive pela comunhão."[4]

O órgão e outros instrumentos musicais legitimamente aprovados sejam colocados em tal lugar que possam sustentar o canto do grupo dos cantores e do povo e possam ser facilmente ouvidos por todos, quando tocados sozinhos. Convém que o órgão seja abençoado, antes de ser destinado ao uso litúrgico, de acordo com o rito descrito no Ritual Romano.

No tempo do Advento o órgão e outros instrumentos musicais sejam utilizados com a moderação correspondente à índole desse tempo, de modo que não supere a plena alegria do Natal do Senhor.

A Schola Cantorum como Exemplo de Vida Sacramental

Lembremos da notável atenção que São Pio X dedicou à reforma da Liturgia, em particular da música sacra, para conduzir os fiéis a uma mais profunda vida de oração e a uma mais plena participação nos Sacramentos. No Motu Proprio Tra le sollecitudini (1903, primeiro ano de seu pontificado), ele afirma que o verdadeiro espírito cristão tem a sua primeira e indispensável fonte na participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja [5].

Como membros da Shola Cantorum, somos instrumentos de Deus e devemos nos esforçar para utilizar o dom da música para enriquecer a Liturgia com o belo canto e o melhor acompanhamento.

[1] Normas Litúrgicas ( arts. 28 e 30 - S.C)

[2] (SC, 115, final)

[3] (SC, 121)

[4] (IGMR, 312, ant. 274)

[5] (cf. ASS 36 [1903], 531).


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