Victimae paschali laudes: A sequência da Páscoa
- Blog Schola Cantorum
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A Páscoa, maior de todas as solenidades, é enriquecida com uma sequência: a Victimae Paschali Laudes (Cantai, cristãos, afinal). Este texto é entoado obrigatoriamente no Domingo de Páscoa e de maneira facultativa durante a Oitava Pascal (até o II Domingo da Páscoa, inclusive).
Sua origem remonta provavelmente ao século XI, sendo atribuída ao presbítero Wippo de Borgonha, capelão do Imperador Conrado III do Sacro Império Romano-Germânico. Porém, não há consenso quanto à sua autoria: outros atribuem-na ao Abade Notker Balbulus (autor de várias sequências no século X) ou a Adão de São Vítor (grande poeta do século XII).
De toda forma, esta sequência foi provavelmente composta para práticas de piedade popular na manhã do Domingo de Páscoa, devido à sua melodia simples e caráter didático: a estrutura do hino prevê, após uma introdução (estrofes 1-3), um diálogo entre os Apóstolos e Maria Madalena (estrofes 4-6), seguido de uma solene conclusão entoada por ambos (estrofe 7).
É possível que originalmente esse hino acompanhasse alguma representação do encontro de Maria Madalena com os Apóstolos; porém longo começou a fazer parte da Liturgia. A reforma litúrgica do Concílio de Trento a inseriu no Missal, permanecendo até hoje.
Padre Paulo Ricardo afirma que nesse Domingo de Páscoa, "deixamos de lado as orações romanas para dar um doce adeus a uma das poucas sequências sobreviventes nos Missais Romanos de 1962 e 1970. Victimæ Paschali Laudes, recitada ou cantada todos os dias na Missa desde o Domingo de Páscoa e conclui o seguinte:
"Há vários paradoxos nas duas primeiras estrofes, algo que é apropriado para um período que celebra o fato de Cristo ter destruído nossa morte ao morrer por nós e ter restaurado a nossa vida ao ressuscitar (cf. Prefácio da Páscoa). O primeiro verso é ainda mais forte na versão em latim: immolare também significa matar ou derramar sangue num ritual."
"O verbo evoca o sacrifício cruento do cordeiro na Páscoa hebraica e estabelece uma conexão com a representação de Cristo como Vítima e Cordeiro pascal, tema dominante da Missa do Domingo de Páscoa; a afirmação Pascha nostrum immolatus est Christus (“Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”) aparece na Epístola [iii], no Aleluia, no Prefácio e na Comunhão. Como verso do Aleluia, ela cria uma transição adequada para a sequência: enquanto o Aleluia proclama que Cristo, nossa Páscoa, é sacrificado, a sequência “responde” que os cristãos deveriam, [portanto], oferecer sacrifícios à Vítima Pascal.
"A segunda estrofe resume uma quinzena de imagens violentas na liturgia. A partir do Domingo da Paixão, o Rito Romano tradicional inclui leituras e outros Próprios que narram ou aludem ao ódio crescente a Jesus Cristo e ao conflito crescente entre Ele e seus inimigos. Sim, a Paixão de Cristo é semelhante à de um cordeiro que não abriu a boca ao ser levado ao matadouro; mas o pacifismo de Nosso Senhor também é retratado de forma paradoxal como uma luta travada livremente em nosso favor.
São Lucas (22, 43) chama o início deste combate no Getsêmani de “agonia” (ἀγωνία), termo que, em grego antigo, se referia a um combate nos Jogos Olímpicos. Como muitos dos esportes violentos da Grécia, o combate do qual Jesus participou fez jorrar sangue bem antes de o primeiro soldado golpeá-lo (cf. Lc 22, 44). Foi graças ao modo como Lucas usou “agonia” que o termo acabou ganhando o sentido contemporâneo de “sofrimento mental intenso”.
"Duellum pode ser traduzido por “combate”, embora também possa significar “duelo”, porque o verso seguinte descreve Jesus como um dux, que geralmente se refere a um comandante militar ou general. Suspeito que o autor tenha escolhido o termo militar dux em lugar de rex (rei) porque, embora Jesus “reine” (e, portanto, seja rei), nem todos os reis travam suas próprias batalhas como o nosso."
"A sequência termina bem, com uma afirmação da Ressurreição de Cristo, cuja veracidade é atestada em grande medida pelo testemunho de Santa Maria Madalena. (O uso do verbo latino scire é bastante forte [iv], já que pode referir-se ao mais elevado grau de conhecimento humano.) Como observa Santo Agostinho, Jesus Cristo “foi ao mesmo tempo Vencedor e Vítima, e Vencedor porque Vítima”; e Ele foi “Sacerdote e Sacrifício, e Sacerdote porque Sacrifício” (Confissões X 43, 69)."
A sequencia, conforme define bem o site "Society of S. Bede - Liturgical Ressources", é encontrada na Obra "Analecta Hymnica Vol. 54." Esta sequência segue o padrão métrico 1, 2a, 2b, 3a, 3b… A primeira linha sendo cantada com uma melodia, então a segunda linha é cantada com uma melodia diferente, a terceira linha usa a melodia da segunda. A quarta linha usa uma nova melodia, que então também é repetida.
Nos livros romanos modernos, este padrão continua até o quinto par de versos, Scimus Christum, que está faltando seu par (Credendum est magis soli Mariae veraci quam Judaeorum turbae fallaci.). Isto foi omitido no missal de 1570, que também substituiu 'praecedet suos (seu próprio)' por 'praecedet vos (você)', e adicionou o 'Amém. Aleluia'. Ainda não encontramos uma razão documentada da época para a omissão disso. A tradução abaixo é de Connelly; aqui está o link para a tradução do Ano Litúrgico.
O trecho de diálogo desta sequência tornou-se conhecido após ter sido cantado em uma cerimônia popular na manhã de Páscoa, quando o Santíssimo Sacramento foi trazido de volta à Igreja. Isso é descrito como a seguir: “Na maioria das igrejas do Ocidente, durante a Idade Média, assim que a terceira Lição era lida, e antes do Te Deum, o clero ia em procissão, cantando um Besponsório, até a capela onde o Santíssimo Sacramento havia sido guardado desde a Quinta-feira Santa, que era chamada de Capela do Sepulcro. Três clérigos estavam paramentados com alvas e representavam Madalena e suas duas companheiras. Quando a procissão chegava à capela, dois diáconos, em dalmáticas brancas, que estavam em cada extremidade do túmulo, dirigiram-se aos três clérigos da seguinte forma: (no diálogo da Sequência)”
Esta Sequência foi usada para produzir uma variedade de textos para outros tempos litúrgicos seguindo a mesma métrica, como as versões reeditadas a seguir:
Virgini Mariae Laudes, 15th c. Christmas sequence (The Liturgical Year Vol. 2 pg. 247)
Virgini Mariae Laudes, Marian sequence from the Cluny Missal A.D. 1523 (The Liturgical Year Vol. 8 pg. 257)
Virgini Mariae Laudes, 11th c. Marian sequence (Analecta Hymnica Vol. 54 No. 18)
Virgini Mariae Laudes, 12th c. Christmas sequence (Analecta Hymnica Vol. 54. No. 19)
Virgini Mariae Laudes, 15th c. Passiontide sequence (Analecta Hymnica Vol. 54. No. 20)
Virgini Mariae Laudes, Paschaltide sequence A.D. 1233 (Analecta Hymnica
Deixamos aqui o Texto do Victimae Paschalis em Latim e Vernáculo, para que você leia e reflita sobre esse Hino Pacal como forma de meditação.
Victimæ Paschali laudes
Immolent Christiani.
À Vítima Pascal,
os cristãos ofereçam louvor.
Agnus redemit oves:
Christus innocens Patri
Reconciliavit peccatores.
O Cordeiro redimiu as ovelhas:
Cristo Inocente
reconciliou os pecadores com o Pai.
Mors et vita duello
Conflixere mirando:
Dux Vitæ mortuus,
Regnat vivus.
Morte e vida travaram
um espantoso combate:
Morto, vive e reina,
o Autor da Vida.
Dic nobis, Maria,
Quid vidisti in via?
Dizei-nos, ó Maria:
o que vistes pelo caminho?
Sepulcrum Christi viventis,
Et gloriam vidi resurgentis,
Angelicos testes,
Sudarium et vestes.
Vi o sepulcro de Cristo vivo,
E a glória do ressuscitado,
o testemunho dos Anjos,
o sudário e a mortalha.
Surrexit Christus spes mea:
Praecedet suos in Galilaeam.
Ressuscitou Cristo, minha esperança:
que precederá os seus na Galileia.
Scimus Christum surrexisse
A mortuis vere:
Tu nobis, victor Rex,
Miserere.
Sabemos que Cristo ressuscitou
e venceu a morte:
ó Rei da glória,
tende piedade de nós.
Amém Aleluia !
Fontes:
Pade Paulo Ricardo - Site Oficial
Pílulas Litúrgicas.
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