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Domingo da Quinquagésima






Esto mihi in Deum protectórem, et in locum refúgii, ut salvum me fácias: quóniam firmaméntum meum et refúgium meum es tu: et propter nomen tuum dux mihi eris, et enútries me. Ps. In te, Dómine, sperávi, non confúndar in ætérnum: in iustítia tua líbera me et éripe me. ℣. Glória Patri,




Introito (Salmo 30, 3-4.2)

Sede para mim um Deus protetor, e um lugar de refúgio, em que possa me salvar. Porque Vós sois a minha fortaleza e o meu auxílio, e, para a glória do vosso nome, sereis o meu guia e o meu pastor. Sl. Esperei em Vós, Senhor; não serei confundido jamais. Pela vossa justiça, livrai-me e salvai-me. Glória ao Pai.


Comentários

Por amor da humanidade cega, toma o Salvador, sobre Si, os sofrimentos dela (Evangelho). Por amor de Deus — a Epístola nos ensina qual o verdadeiro — devemos expiar as nossas faltas, fazendo da santa Missa o nosso Calvário e unindo os nossos sofrimentos aos do Filho de Deus. E se na Oração pedimos que o Senhor nos livre de toda adversidade, queremos apenas a isenção dos males que prejudicam a nossa salvação, sabendo que, aos que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o seu bem (Rom. 8, 28).

Abraão e a Quinquagésima

A Igreja nos dá hoje outro assunto para nossa meditação: é a vocação de Abraão. Quando as águas do Dilúvio se acalmaram e a humanidade mais uma vez povoou a terra, a imoralidade, que anteriormente excitara a ira de Deus, novamente se espalhou entre os homens. A idolatria, também, na qual a raça ante-diluviana não caíra, agora se mostrava, e a perversidade humana parecia assim ter atingido o auge de sua malícia. Prevendo que as nações da terra se rebelariam contra ele, Deus resolveu escolher um povo que deveria ser peculiarmente Dele, e entre os quais deveriam ser preservadas aquelas sagradas verdades, que os gentios perderiam de vista. Este novo povo foi originado de um homem, que seria o pai e modelo de todos os futuros crentes. Este foi Abraão. É necessário, portanto, conhecer Abraão, nosso pai e nosso modelo. Esta é sua grande característica: fidelidade a Deus, submissão aos seus mandamentos, abandono e sacrifício de tudo a fim de obedecer a Sua santa vontade. Tais devem ser as virtudes proeminentes de todo cristão. Vamos, então, estudar a vida do nosso grande Patriarca e aprender as lições que ela ensina. A seguinte passagem do Livro de Gêneses, que a Igreja nos dá em suas Matinas de hoje, servirá como texto de nossas considerações. Do livro de Gênesis, capítulo 12:

O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti”.


Poderia o cristão ter um modelo mais refinado do que este santo patriarca, cuja docilidade e dedicação em seguir o chamado de seu Deus são tão perfeitos? Somos forçados a exclamar, com os Santos Padres: “Ó verdadeiro cristão, mesmo antes de Cristo ter vindo sobre a terra! Ele tinha o espírito do Evangelho antes que o Evangelho fosse pregado! Ele era um homem apostólico, antes dos apóstolos existirem! Deus o chama: ele deixa todas as coisas, seu país, sua parentela, a casa de seu pai, e ele vai para uma terra desconhecida. Deus o leva - ele está satisfeito; ele não tem medo de dificuldades; ele nunca mais olha para trás. Deus lhe diz: Em ti serão abençoadas todas as famílias da Terra. Este caldeu vai dar ao mundo Aquele que deve abençoá-lo e salvá-lo. É verdade que a morte fechará seus olhos antes do amanhecer daquele dia, quando uma de suas raças, que deve nascer de uma Virgem e se unir pessoalmente ao Verbo Divino, resgatará todas as gerações, passadas, presentes e futuras.


Assim é Abraão honrado; assim Deus retribui o amor e a fidelidade daqueles que o servem. Quando a plenitude dos tempos chegou, o Filho de Deus, que era também Filho de Abraão, declarou o poder do seu Pai Eterno, dizendo que ele estava prestes a levantar uma nova descendência dos filhos de Abraão das próprias pedras, isto é, dos gentios[2]. Nós, cristãos, somos essa nova geração. Mas somos filhos dignos de nosso Pai? - Escutemos o Apóstolo dos Gentios: Pela fé, Abraão, quando chamado (por Deus), obedeceu para sair para um lugar, o qual ele deveria receber por herança: e ele saiu sem saber para onde ia. Pela fé, ele permaneceu na terra, habitando em tendas, com Isaque e Jacó, os co-herdeiros da mesma promessa; pois ele procurou por uma cidade que tivesse fundamentos, cujo construtor e criador é Deus[3]. Se, portanto, somos filhos de Abraão, devemos, como a Igreja nos diz, durante a Septuagesima, olhar para nós mesmos como exilados na terra e habitar, pela esperança e desejo, naquele nosso verdadeiro país, do qual somos nós agora banido, mas para o qual estamos cada dia mais orientados se, como Abraão, formos fiéis aos desígnios de Nosso Senhor. Somos ordenados a usar este mundo como se não o usássemos[4] e ter uma convicção permanente de não termos aqui uma cidade duradoura[5] e da miséria e do perigo em que incorremos, quando nos esquecemos de que a Morte um dia virá para nos separar de todas as coisas que possuímos nesta vida.


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[1] Lucas 16,22. [2] Mateus 3,9. [3] Hebreus 11,8-10. [4] 1 Coríntios 7,31. [5] Hebreus 13,14.

Fonte: https://www.apostoladoferr.com





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