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Septuagésima



Introito: Domingo da Septuagésima (Leia a Reflexão a Seguir)


No Calendário Romano tradicional, há três domingos antes da Quarta-feira da Cinzas, onde a Igreja já começa a se preparar para a Quaresma: os sacerdotes trocam o verde pelo roxo (embora as Missas feriais, se usará as cores conforme o Missal Romano) [1]. Não se canta mais nem o Aleluia nem o Glória, a partir do Domingo da Septuagésima.


Por muitos séculos, no Calendário Romano tradicional, houve um período pré-quaresmal vivido alguns domingos antes da Quarta-feira de Cinzas, nos quais já se antecipava na Igreja parte da austeridade penitencial da Quaresma. O vocábulo "Septuagésima" , faz referência ao “septuagésimo” dia antes da Páscoa, e assim sucessivamente a Sexagésima (“sexagésimo” dia) e a Quinquagésima (“quinquagésimo” dia). Desse modo, todo o tempo da Quaresma recebia o nome de Quadragésima.[2]


A supressão da palavra “Aleluia” durante todo esse tempo é uma conveniente imitação dos hebreus quando se recusavam a cantar junto aos rios da Babilônia, já que o Aleluia é uma canção nos lábios dos anjos e santos em nossa verdadeira pátria, que é o Céu


Ainda sobre o Aleluia, "há um costume encantador — que, felizmente, vem sendo restaurado — de omiti-lo desde as Primeiras Vésperas da Septuagésima até a Vigília do Sábado Santo. Há uma tradição de “enterrar” o Aleluia, com uma cerimônia de deposição, como se fosse um pequeno funeral. Nesta cerimônia, canta-se um hino de despedida e, após uma procissão com cruz e velas, um caixão enfaixado com a inscrição de um “Aleluia” é aspergido, incensado e enterrado" (P.e Paulo Ricardo) [3].


O tempo da Septuagésima, concluímos, pode ser considerado como o vestíbulo da Quaresma, tempo clássico da reforma espiritual; por isso a liturgia apresenta-nos hoje o programa do que devemos fazer para nos dispormos para uma nova e séria conversão a fim de ressuscitarmos depois com Cristo na próxima Páscoa.


Introito

O Canto de entrada remete à tristeza, como que enunciando o tema geral da Missa. Compunha-se antigamente duma antífona e de um salmo, que se cantava por inteiro. Hoje o salmo está reduzido a um só versículo.


"Circumdedérunt me gémitus mortis, dolóres inférni circumdedérunt me: et in tribulatióne mea invocávi Dóminum, et exaudívit de templo sancto suo vocem meam. Ps. Díligam te, Dómine, fortitúdo mea: Dóminus firmaméntum meum, et refúgium meum, et liberátor meus. ℣. Glória Patri"


"Cercaram-me gemidos de morte: envolveram-me dores de inferno. Em minha angústia invoquei o Senhor e, de seu santo templo, Ele ouviu a minha voz. Sl. Eu vos amo, Senhor, que sois a minha força. O Senhor é meu apoio, meu refúgio e meu libertador. ℣. Glória ao Pai."


Por que estais tristes, nos perguntaria o Senhor: deveríamos estar Justamente aflitos por nossos pecados; os sentimos neste tempo (D. Gaspar Lefebvre). "O pecado, o perigo do mesmo e suas tentações, a necessidade de combatê-lo e o penoso deste combate são gemidos de morte, dores de inferno até para a alma remida. Mas a nossa tristeza não é sem esperança. Deus, embora castigue o pecado enquanto vivemos, é um Deus misericordioso; é o nosso refúgio e o nosso Libertador (Mensagem do Introito). Recorrendo a Ele, livrar-nos-á misericordiosamente (Oração). Mas devemos procurá-Lo pelo desejo e pela Oração, e mais ainda pela ação. pelo esforço, pela penitência. E o que nos ensinam a Epístola e o Evangelho."


Coleta

A Coleta da Missa, lembrando-nos que somos pecadores, convida-nos a sentimentos de profunda humildade: « para que nós, que justamente somos afligidos por nossos pecados, sejamos misericordiosamente livres ». O primeiro passo para a conversão é sempre o reconhecer humildemente que temos dela necessidade. O tíbio deve tornar-se fervoroso, o fervoroso chegar à perfeição e o perfeito deve atingir o heroísmo da virtude. Quem poderá dizer que já não precisa de fazer algum progresso na virtude e na santidade? Cada novo progresso realiza uma nova conversão a Deus, conversio ad Deum.


Primeira Leitura

Na sua epístola, (I Cor. 9, 24-27; 10, 1-5), S. Paulo estimula-nos a este contínuo esforço espiritual; para chegar à santidade, à glória do céu, nunca devemos deixar de correr e lutar como os jogadores que lutam e se cansam no estádio « para alcançarem uma coroa corruptível; nós porém uma incorruptível. Quanto a mim — diz o apóstolo — corro… combato, não como quem açoita o ar, mas castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão ». Eis o primeiro ponto do programa: luta generosa para nos vencermos a nós próprios, para vencer o mal e conquistar o bem; abnegação do próprio corpo pela mortificação física. O prêmio será só para quem se cansa e luta: corramos, portanto, também nós, de modo a alcançar o prêmio.


Evangelho

O Evangelho (Mt. 20, 1-16), apresenta-nos a segunda parte do programa deste tempo litúrgico: não permanecer ocioso, mas trabalhar assiduamente na vinha do Senhor. A primeira vinha que devemos cultivar é a nossa alma; Deus vem-nos ao encontro com a Sua graça, mas não quer santificar-nos só: espera a nossa colaboração. Neste domingo renova-se para cada alma o grande apelo à santidade; Deus vai amorosamente à procura dos filhos dispersos e ociosos e repreende-os docemente: Porque estais aqui sem fazer nada?



Conclusão

« Deus — diz S.ta M. Madalena de Pazzi — chama a diversas horas porque são diversos os estados das criaturas; e nesta variedade bem se descobre a grandeza de Deus e a Sua benignidade que nunca cessa — qualquer que seja o tempo ou estado em que nos encontremos — de nos chamar com as Suas divinas inspirações ».


Felizes aqueles que desde a sua juventude ouviram e seguiram o apelo divino! Porém, todas as horas são de Deus, e Deus passa e chama até à última hora. Que consolação e, ao mesmo tempo, que estímulo, responder finalmente ao chamamento do Senhor! « Oxalá que ouçais hoje a Sua voz! Não endureçais os vossos corações » (Sl. 94, 7 e 8).


Além da vinha da nossa alma, devemos considerar a vinha da Igreja, onde tantas almas esperam ser conquistadas para Cristo. Ninguém pode julgar-se dispensado de pensar no bem dos outros; por humilde que seja o nosso lugar no Corpo Místico de Cristo, todos somos Seus membros e, por consequência, cada um de nós deve cooperar para o bem alheio.


Para todos existe a possibilidade duma ação apostólica eficaz através do exemplo, da oração e do sacrifício. Se até agora temos feito pouco, ouçamos hoje a palavra de Jesus: « Ide vós também para a minha vinha ». Vamos e abracemos com generosidade o trabalho que o Senhor nos apresenta. Nada nos deve parecer demasiadamente custoso quando se trata de ganhar-Lhe almas.


Notas:


[1] Todos os dias do ano são dias litúrgicos. Há cinco classes de dias litúrgicos: Domingos, férias, vigílias, festas e oitavas. Férias são os dias da semana em que não há festa: diz-se normalmente a missa do domingo precedente; contudo as férias das Quatro-Têmporas, os dias das Rogações e todas as férias da Quaresma têm missas especiais.


[2] “A Septuagésima é o nono domingo antes da Páscoa e o terceiro antes da Quaresma, conhecido entre os ortodoxos como ‘Domingo do Filho Pródigo’, do Evangelho de São Lucas, que eles leem neste dia; chamado também  pelos latinos de Dominica Circumdederunt, em referência à primeira palavra do intróito da Missa. Na literatura litúrgica, o nome ‘Septuagésima’ aparece pela primeira vez no sacramentário gelasiano [...]. Amulário de Lião, em De eccl. off., afirma que a Septuagésima representa misticamente o cativeiro babilônico de setenta anos, começando neste domingo com a antífona Circumdederunt me undique (‘Cercaram-me de todos os lados’) e terminando no sábado depois da Páscoa, quando a Igreja canta Eduxit Dominus populum suum (‘O Senhor conduziu o seu povo’)” (Septuagésima, in The Catholic Encyclopedia).


[3] Uma exclusividade da Quaresma é omissão da palavra ‘Aleluia’ em qualquer oração, antífona. Os cantos, por si só não devem carregam o ‘Aleluia’. O Hino de Louvor voltará a ser entoado na Quinta-feira Santa, mas o momento de maior glorificação será na Vigília Pascal. Aliás, a restrição ao uso do ‘Aleluia’ permanece até a Sexta-feira Santa e só é definitivamente quebrada na Vigília Pascal.



Fontes:

Livro Intimidade Divina­ — P. Gabriel de Santa Maria Madalena O.C.D. Segunda edição (Traduzida da 12ª edição italiana) — 1967.

Portal Pe. Paulo Ricardo (https://padrepauloricardo.org/blog/o-que-e-a-septuagesima)

Administração Apostólica - Site Oficial



Tracto: "Das profundezas do abismo, eu clamo a Vós, Senhor! Senhor, escutai a minha voz. ℣. Estejam os vossos ouvidos atentos à oração de vosso servo. ℣. Se observardes, Senhor, as nossas iniquidades, Senhor, quem subsistirá? ℣. Porque Vós amais o perdão e por causa de vossa lei, em Vós espero, Senhor."

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