Conheça o padre João Batista Lehmann
Conheça o padre João Batista Lehmann
Até hoje em nossas paróquias recorremos ao nosso tão piedoso e, talvez o mais conhecido livro de cânticos e acompanhamentos que temos. Ele vem em dois formatos: livro do cantor, livro do organista. Estamos falando da Harpa de Sião, herança do Padre Lehmann, também autor do "Método de Harmônio" e "O Órgão Festivo", que compartilhamos com vocês no formato PDF.
Para entender em que cenário da música sacra encontrava-se o Pe. Lehmann no auge das suas composições, devemos recorrer a detalhes de nossa história.
"No século XIX, a música passa por um processo de secularização: o crescimento e desenvolvimento dos ambientes urbanos, o enriquecimento de uma classe média consumidora de arte acabam estimulando o aparecimento de instituições ligadas à prática musical: editoras, teatros, atividade didática, comércio de instrumentos musicais. Mas o problema não parece residir no fato de a música sair da igreja para ir para o teatro, mas sim de a música de teatro entrar na igreja. Temos uma pérola do "Jornal do Commercio " que relata o seguinte : "é preciso acabar com a falta de senso artístico dos adaptadores dos textos sagrados do "O Salutaris", "Santum Ergo", etc... etc..., a melodias de sentimentos profanos e direi mesmo de sentimentos que manifestão a degradação do nível artístico do indivíduo (...) [1]
"Que remédio se indica para a correção desses 'desvios'? A proposta era a criação uma associação para regulamentar a Música Sacra, o que foi aprovada pelo papa Leão XIII, com o aval da Sagrada Congregação dos Ritos. Mais tarde, a fundação de uma Escola de Música Sacra, foi criada para preparar os músicos, cantores, compositores e seminaristas [2]."
Mas, foi graças a São Pio X que a música sacra retornou ao seu objetivo principal, isto é, servir da forma forma mais apropriada possível ao culto divino, sem os abusos. Em 22 de novembro de 1903 – dia de Santa Cecília – foi publicado o Motu Proprio “Tra le Sollecitudini” . O documento foi proclamado com a força de um “código jurídico de música sacra” e obrigava todas as igrejas católicas do mundo todo a obedecê-lo. O canto gregoriano foi então declarado "musica oficial da Igreja".
No pontificado de Pio XII, merecem destaque a Encíclica “Musicae Sacrae Disciplina” sobre a música sacra (1955) e a Instrução da Sagrada Congregação dos Ritos sobre a Música Sacra e a Sagrada Liturgia (1958).
As lições aprendidas desse tempo valem também para os nossos dias. Padre Lehmann foi um fiel observador das diretrizes de São Pio X e Pio XII. Ele não somente compôs um repertório prático, como também editou publicou as suas obras em larga escala. Basílio Röwer, Pedro Sinzig e Bernardino Bortolotti e Fúrio Franceschini são contemporâneos do Padre Lehmann, seguindo o mesmo espírito.
Voltando ao nosso personagem, o Pe. João Batista Lehmann era alemão, nascido em Mertloch, na Renânia, em 1873. Estudou música desde criança, dedicando-se ainda mais aos estudos musicais depois de entrar para a Congregação do Verbo Divino. Foi ordenado sacerdote em 1899 e no ano seguinte veio para o Brasil, para atuar na Academia de Comércio de Juiz de Fora como professor e músico.
Lehmann teve importante atuação no Brasil no sentido de orientar e estimular a música sacra católica. Chegando ao Brasil, iniciou um grande trabalho, apesar de todas as dificuldades, por uma nova música funcional na Igreja. Faltavam partituras, livros de canto gregoriano, e a mentalidade dos músicos de Igreja estava dominada pelo operismo. Sem alardes, pouco a pouco, foi encontrando músicas e textos corretos, mudando a mentalidade, criando coros e, na falta de músicas para festividades, passou a compor música religiosa.
Em 1922 passou a atuar como diretor do jornal Lar Católico. No entanto, não deixou de compor. Assim, surgiu o livro de cantos a uma ou mais vozes com acompanhamento de harmônio: Harpa de Sião bastante popular e utilizado em todas as igrejas e capelas católicas do Brasil, até o Concílio Vaticano II. Sua fama de compositor litúrgico afirmou-se em todo o país. É verdade que teve grandes aliados como seu próprio antecessor acadêmico Frei Sinzig.
Em 1925 passou a viver no Rio de Janeiro. Em 1946, criada a comissão arquidiocesana de Música Sacra do Rio de Janeiro, foi convidado para integrá-la e nela permaneceu até o fim de sua vida. Foi eleito para a Academia Brasileira de Música, tomando posse a 27 de setembro de 1954, sendo saudado por Octávio Bevilacqua.
Faleceu no dia 13 de outubro de 1955, aos 82 anos de idade.
referências:
(1) Vermes, Mônica - Departamento de Artes da UFPR Revista Eletrônica de Musicologia Vol. 5, no. 1 / Junho de 2000 "Alguns aspectos da música sacra no Rio de Janeiro no final do século XIX"
(2) Jornal do Commercio, 8 de janeiro de 1898