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O Nascimento da Polifonia e o Canto Litúrgico e Secular



DA HOMOFONIA À POLIFONIA

A trajetória da homofônia à polifonia na história da música ocidental, inicia-se por volta do ano 600 de nossa era. Por essa época, a Igreja Católica tornou-se a principal potência política do Ocidente e, durante o papado de Gregório, o Grande, procura-se, sob a sua liderança, "unificar o canto da Igreja sobre o modelo romano", tendo-se em vista a hegemonia católica de todo o território europeu.

Esse ideal hegemônico perpassa os dois séculos seguintes, desembocando na tentativa de unificação da liturgia por parte de Carlos Magno: "dois séculos depois do papa Gregório, Carlos Magno interessou-se pela unificação da liturgia, com um duplo fim político: disciplinar o papado, sempre poderoso, e fortificar a unidade de seu império. Impõe-se aos seus Estados um repertório de cantos de Igreja que julga ser o verdadeiro canto prescrito por Gregório."

Esse repertório de cantos veio a ser conhecido pela denominação de "canto gregoriano", melodias unitárias e homofônicas que, sob o domínio do poder eclesiástico, procuram expressar o poder político-religioso da Igreja Católica (que durante séculos foi o único foco de criação musical).

Muito significativamente, e apesar desse pretenso controle sobre a produção musical da época, o canto gregoriano não serve apenas aos propósitos da Igreja, deixando transparecer também o conflito entre corpo e alma que escapa à tentativa de absolutização, por parte do clero, do sentido estético-musical desse modelo composicional. Essa divisão entre corpo e alma será, séculos mais tarde, uma das principais preocupações do filósofo francês René Descartes que, através de princípios matemáticos, lança as bases do racionalismo científico moderno.

Retomando a trajetória do desenvolvimento da música polifônica, durante o século X poucas são as alterações sofridas pelo canto gregoriano, introduzindo-se apenas diálogos entre as melodias, não se alterando, portanto, a estrutura básica homofônica deste modelo musical. No século seguinte percebe-se que a melodia se tornará muito mais interessante e apreciável se uma segunda voz ascendesse ao mesmo tempo em que a voz principal descesse, e vice-versa.

Posteriormente, no século XII, o canto gregoriano é dilatado, ou seja, coloca-se entre uma nota e outra uma melodia mais dinâmica e de ritmo mais ágil, além de se introduzir uma diferenciação de andamento entre as várias vozes.

No século XII, prevalece um tipo de composição em que as melodias diferenciam-se e, portanto, não são mais as mesmas nas várias vozes. Ou seja, os vários segmentos melódicos desenvolvem-se interdependentemente, necessitando-se de uma notação musical mais rigorosa que propiciasse a valoração do tempo de cada nota.

Esse tipo de composição, ou moteto, como vieram a ser conhecidos posteriormente, "constituem o verdadeiro lançamento da música polifônica3 que, por sua vez, irá predominar no cenário musical europeu de forma mais efetiva a partir do movimento denominado Ars nova, já no começo do século XIV.

Durante esse século, as regras composicionais da música polifônica são definitivamente estabelecidas, assim como a leis básicas de mensuração temporal da música que irá predominar durante os quatro séculos que se seguirão, culminando no sistema tonal, plenamente estabelecido na passagem do século XVII para o século XVIII (significativamente, este fato coincide com a consumação do método científico contemporâneo, conseqüência da aplicação empírica, a nível científico, do modelo de metrificação temporal desenvolvido e praticado no âmbito da música ao longo dos séculos anteriores).

O século XIV é marcado por profundas crises e transformações em praticaamente todos os setores da atividade humana, momento no qual a erudição predomina sobre o pensamento poético e contemplativo, sendo mais empírico do que nos períodos anteriores.

No âmbito da música, os compositores procuram complexificar os procedimentos composicionais, assim como estabelecer, também, todas as combinações sonoras e rítmicas possíveis. O compositor Philippe de Vitry, um cônego político de idéias artísticas não convencionais, publica um tratado sobre composição musical chamado Ars Nova Musicae, do qual deriva a denominação da música desse época; ou seja, a Ars Nova propriamente dita.

A possibilidade do surgimento dessa nova polifonia e de suas intrincadas tramas melódicas deu-se graças aos progressos da notação musical. Um dos compositores que mais se destacou na utilização das novas regras polifônicas foi o francês Gillaume de Machaut, mestre de teologia e secretário do rei da Boêmia.

Machaut é extremamente cuidadoso na finalização e no acabamento de suas obras, representando o ideal da época que era exatamente o de se ter mais esmero com o que se pretendia criar em termos artísticos. Procura-se, assim, a perenidade da obra de arte e, sobretudo na música, a preocupação maior é que esta seja um monumento artístico durável que sobreviva aos infortúnios do tempo.

Uma das principais obras de Gillaume de Machaut é a Messe de Nostre Dame, considerada uma das peças musicais mais representativas do período, cuja estrutura composicional expressa de forma contundente o complexo jogo polifônico das várias melodias e vozes de sua tessitura musical.

Referências: História Geral e Reflexão da Música - Univ.Fed.Ponta Grossa


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