História do Órgao de Tubos
Vídeo : Futuras Instalações do Orgão Steinmeyer - Igreja Principal
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Etimologia
Etimologicamente, a palavra "órgão" advém da palavra grega "órganon", que significa "o instrumento". Este facto indicia que o órgão era considerado o instrumento por excelência, tendo sido o primeiro mecanismoorganizador de sons composto por vários elementos diferentes. Mereceu inclusive, a partir do período final da Idade Média, o epíteto de "o rei dos instrumentos", o qual terá sido inicialmente atribuído por Guillaume de Machaut, nome maior da Ars Nova e de toda a música medieval. O seu reconhecimento continuou a aumentar após a Idade Média, tanto na música sacra como na música secular, tendo recebido, muito mais tarde, o mesmo epíteto de grandes vultos da música universal, como é o caso do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart.
Origem
Alguns autores defendem que o órgão teve como seu antecessor a flauta de Pan e citam a Bíblia, nomeadamente o Livro de Génesis do Velho Testamento, que refere Jubal, filho mais novo de Lameque e Ada, como sendo o pai dos músicos e o inventor da harpa e da flauta. Estes autores apontam também para a possibilidade de os Hebreus terem utilizado alguns instrumentos rudimentares com um princípio mecânico semelhante ao do órgão, citando, por exemplo, o Livro, de Job, também do Velho Testamento.
"Levantem a voz, ao som do tamboril e da harpa, e alegrem-se ao som dos órgãos" (Jo, 21-12)
O primeiro vestígio concreto de um estágio intermédio na evolução da flauta de Pan para o órgão foi encontrado na Síria. Trata-se de um achado arqueológico anterior ao nascimento de Cristo originário da antiga Cilícia no qual se pode ver o torso de uma figura humana tocando um instrumento que consiste em uma série de tubos ligados àquilo que parece ser uma caixa de ar. Uma das mãos parece accionar uma alavanca responsável pela compressão do ar enquanto a outra parece controlar o som do instrumento na parte frontal deste.
Há também vestígios da utilização de instrumentos semelhantes à flauta de Pan em culturas não ocidentais muito antes do nascimento de Cristo, dos quais se pode referir, como exemplo, as duas Pai Xiao (c. 435 a. C.) em bambu descobertas na China em 1978 no túmulo de Yi, o marquês de Zheng.
Há também registos referentes a um órgão de tubos inventado por Arquimedes, cerca de 229 anos antes de Cristo. Mas, sendo o órgão um mecanismo compósito constituído por diversos elementos, pode assumir-se que o aparecimento do órgão só sucede quando todos os seus elementos básicos estão reunidos numa só máquina. Os elementos essenciais que constituem o órgão são:
os tubos que produzem o som;
a câmara de armazenamento de ar comprimido;
o mecanismo de compressão do ar;
o sistema de acesso do ar aos tubos controlado por um teclado.
A maioria dos historiadores, atendendo aos vestígios e às referências históricas conhecidos até à data, atribui a Ctesibios de Alexandria a invenção do primeiro instrumento que reúne todos estes elementos - o órgão hidráulico. (hydraulis / water organ)
Aparecimento do órgão hidráulico na Grécia antiga
A origem deste instrumento remontará ao século III a. C. (Ptolomeu VII) quando Ctesibios de Alexandria, um engenheiro da Grécia antiga, inventou um órgão, que segundo a descrição do matemático e engenheiro grego, Hero de Alexandria, era um instrumento que consistia numa caixa de água onde havia uma bomba de ar accionada manualmente e que dispunha de um grande teclado que controlava a saída do ar pelos 8 a 10 tubos.
Órgão hidráulico e o Império Romano
O órgão hidráulico de Ctesibios esteve em uso durante vários séculos em todo o Império Romano, sendo considerado um dos grandes avanços tecnológicos da antiguidade greco-romana.
Por volta do ano 20 d. C., o arquitecto e engenheiro romano Vitruvius concebeu, a partir do órgão de Ctesibios, o órgão hidráulico que seria muito utilizado no império romano figurando em vários vestígios arqueológicos da época. Este órgão tinha um princípio de funcionamento em tudo idêntico ao de Ctesibios com a diferença de ter duas bombas de ar em vez de uma e, em alguns casos, vários registos (stops).
Os vestígios de dois órgãos, que poderão ser os achados arqueológicos mais antigos referentes ao órgão de Vitruvius, foram encontrados em Pompeia, cidade romana que foi destruída completamente pela erupção do vulcão Vesúvio no ano de 79 d. C.. Estes órgãos, dos quais apenas foram recuperadas as placas decorativas das caixas e os tubos em bronze e que podem hoje ser vistos no Museo Archeologico Nazionale de Nápoles, assemelham-se muito aos órgãos portáteis da Idade Média. Como não foram encontrados quaisquer vestígios de foles ou de mecanismos hidráulicos junto a estes órgãos, persiste a dúvida se seriam órgãos hidráulicos ou pneumáticos, e mesmo, tendo em conta a sua reduzida dimensão, se seriam realmente órgãos.
Também na literatura do período greco-romano há inúmeras alusões ao órgão hidráulico, das quais se pode destacar um poema concreto de Plubilius Optatianus Porfirius (c. 324 d. C.), que tem 26 linhas dispostas verticalmente, sendo que cada uma delas tem mais uma letra do que a anterior, assemelhando-se assim a um órgão com 26 tubos. A base dos tubos é uma linha disposta horizontalmente, constituída por 26 grandes letras maiúsculas. Por baixo desta linha, o poema tem 26 linhas dispostas verticalmente, todas elas com exactamente o mesmo número de letras, representando um teclado.
Tertuliano (c. 160-225 d. C.), um padre e advogado da província romana de Cartago, e um dos primeiros cristãos a produzir obra literária com considerável extensão, referindo-se ao órgão hidráulico como invenção de Ctesibios, que terá sido posteriormente melhorado por Arquimedes, que exaltou a sua grandiosidade e musicalidade.
Órgão
Tipos de órgãos
Órgão hidráulico do período greco-romano
Órgão pneumático
Tipos de órgãos utilizados na Idade Média (órgão portátil. órgão positivo, grande órgão gótico e regal)
História do órgão
Origem e evolução do órgão: O período greco-romano
Reintrodução do órgão na Europa da Idade Média e início da sua utilização em igrejas
Aparecimento e disseminação do órgão portátil e do órgão positivo
Construção dos grandes órgãos góticos nas catedrais e igrejas
Aparecimento do regal e a sua popularidade durante o Renascimento
O apogeu do órgão e a construção dos grandes órgãos do Barroco
Da decadência ao auge : Primeiros órgãos a chegar à Europa
Após o seu desaparecimento e esquecimento, que se consumou durante o período que sucedeu à queda do Império Romano do Ocidente, é a partir do Império Romano do Oriente e do mundo Árabe, nomeadamente do Império Abássida, que o órgão terá sido reintroduzido na Europa durante a Idade Média, por volta de meados do século VIII. Assim, O mais antigo órgão a ser utilizado no ocidente durante a Idade Média, de que há registo nos documentos históricos, é o órgão pneumático portátil que o imperador de Bizâncio Constantino V ("Coprónimo") enviou a Pepino, "o Breve" (ou "o Pequeno"), rei dos Francos, em 755 ou 757, que terá sido colocado no mosteiro de S. Cornélio, em Compiègue.
O segundo órgão a ser referenciado no ocidente é aquele que Harun Al-Rashid, o califa abássida de Bagdad, terá oferecido a Carlos Magno juntamente com muitas outras oferendas de grande valor. No entanto, não há certezas quanto à veracidade deste facto, podendo tratar-se apenas de um mito.
Início da utilização dos órgãos nas igrejas
Durante os séculos VIII e IX o órgão ter-se-á espalhado, sobretudo pelas igrejas e basílicas da Europa e do Médio Oriente, começando gradualmente a ser utilizado durante as cerimónias religiosas como instrumento de suporte dos cânticos litúrgicos. Estes cânticos, que eram sobretudo vocais e de transmissão oral, e constituíam o repertório mais usado na música da Idade Média, variavam na sua interpretação de acordo com a região e os contextos religioso e sócio-cultural. De entre os aspectos religiosos destacam-se os diferentes ritos praticados na Europa e Médio Oriente, como é o caso do rito bizantino (Ásia Menor e Médio Oriente), rito gelasiano (Alemanha), e rito moçárabe (Península Ibérica). Uma das primeiras referências nos documentos históricos relativas à introdução dos órgãos nas igrejas é feita por Bartolomeo Platina, historiador e escritor humanista do renascimento, no seu Lives of the Popes, (c. 1475) em que indica o nome do papa Vitalianus, que pontificou entre 683 e 697, como responsável pela introdução:
No entanto, esta tentativa do papa Vitalianus para introduzir o órgão nas igrejas terá sofrido oposição e só cerca de um século mais tarde é que os primeiros órgãos terão sido instalados nas igrejas e usados como apoio aos cânticos litúrgicos. O primeiro órgão a ser instalado e utilizado numa igreja talvez tenha sido o que o califa Harun Al-Rashid terá oferecido a Carlos Magno. Este órgão terá sido instalado na catedral de Aix-la-chapelle, na Alemanha, entre 790 e 814, e terá sido utilizado mesmo com a forte oposição do clero.
Há também relatos nos Anais de Ulster (c. 431-1540) relativos à destruição pelo fogo de um órgão na igreja de Clooncraff, Roscommon, Irlanda em 814, o que indicia que o órgão terá chegado à Irlanda logo no período inicial do seu ressurgimento na Europa. O primeiro órgão a ser utilizado nas igrejas de Roma parece ter sido o que foi requisitado pelo papa João VIII, que pontificou entre 872 e 882. Uma vez que os melhores fabricantes de órgãos da Europa nesta altura se encontravam na França e na Alemanha, segundo o livro L'art du facteur d'orgues de Dom Bédos de Celles, um monge beneditino do século XVIII que foi um mestre na arte de construir órgãos, o papa terá pedido a Anno, bispo de Friesingen na Bavária, Alemanha, para que lhe fosse enviado o melhor órgão que conseguissem fazer, assim como um organeiro (construtor de órgãos) que fosse também um organista dotado, capaz de tocar qualquer música que lhe fosse pedida e de ensinar a sua técnica aos futuros organistas de Roma. Terá sido a partir desta altura que a arte de construir e tocar órgãos se espalhou pelos monges de Itália e do resto da Europa, e que a presença de órgãos nas igrejas e catedrais se começou a tornar comum.
Outro dos órgãos mais antigos de que há registo, a ter sido usado em igrejas durante a Idade Média, trata-se do famoso órgão da catedral de Winchester, em Inglaterra, que terá sido construído por volta de 990 e cuja descrição feita pelo monge beneditino Wulfstan, num poema em latim, sobreviveu até hoje. Segundo o poema, o órgão de Winchester seria de grandes dimensões, com 400 tubos, 26 foles que necessitavam de cerca de 14 homens para serem accionados, e seriam precisos 2 organistas para ser tocado.
A utilização do órgão nas igrejas foi gradual e contou sempre com a oposição de algumas figuras proeminentes do clero, nunca chegando a ser utilizado, por exemplo, na igreja ortodoxa grega. Mas sendo o órgão, a partir de certa altura, na Europa, o único instrumento permitido em cerimónias religiosas nas igrejas, a popularidade deste instrumento terá aumentado rapidamente, sobretudo a partir dos séculos XIII e XIV, tanto na música sacra como na música secular.
Mesmo assim, houve sempre vozes dissonantes que se opunham à utilização do órgão e de outros instrumentos nos cânticos e cerimónias litúrgicas. De facto, no Concílio de Trento, que decorreu entre 1545 e 1546 em Trento e em Bolonha, na Itália, houve mesmo uma moção, que não foi aprovada, para a sua proibição.
Resumo : o órgão e a iconografia da Idade Média e do Renascimento
Arte sacra
A associação à Virgem Maria
A associação à Santa Cecília
Anjos
Natividade, Cristo e a Santíssima Trindade
Arte secular
A associação à nobreza e ao clero
A associação ao povo e aos espectáculos de rua
A importância do órgão durante a Idade Média patente na iconografia da época e posterior
A importância do órgão durante a Idade Média patente na iconografia da época e posterior
Bibliografia
Organ (The New Grove Musical Instruments Series), Peter F. Williams (1988);
The Story of the Organ, C. F. Abdy Williams (1903);
The Organ (Encyclopedia of Keyboard Instruments), Douglas Earl Bush, Richard Kassel, Psychology Press (2006);
The Organ, David Baker, Osprey Publishing (2003);
Instrumental Music In Worship, Wayne Wells;
The Organ: Its History and Construction, Edward Hopkins, Edward Francis Rimbault (1870).
Autor: João Fonseca
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