A Vida Eterna
Dom Fernando Arêas Rifan*
“Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?” pergunta Santo Agostinho. Todos queremos viver, viver muito tempo e mesmo para sempre. Por isso, após o mês do Rosário, a Igreja nos convida a pensar na coisa mais importante da nossa existência: a vida eterna. “Deus não criou a morte e a destruição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele criou todas as coisas para existirem... e a morte não reina sobre a terra, porque a justiça é imortal” (Sb 1, 13-15). O pecado é que fez entrar a morte no mundo. Mas a esperança da ressurreição e da vida eterna nos consola.
Domingo próximo, dia 1º de novembro, celebraremos a solenidade de Todos os Santos, a festa daqueles que se salvaram, chegaram à vida eterna feliz para sempre. E, na segunda-feira próxima, a Comemoração de todos os Fiéis Defuntos, os “finados”, aqueles que já partiram dessa vida temporal e começaram a vida eterna, que, esperamos e rezamos para isso, seja no Céu. Dom Boaventura Kloppenburg fez questão de resumir o seu testamento nessa palavra: “Creio na Vida Eterna”. Creio na vida que não terá fim. É a nossa profissão de fé no Credo.
É tempo de reflexão sobre a humildade que devemos ter, sabendo que a morte nos igualará a todos. Todos compareceremos diante de Deus, para dar contas da nossa vida. Ali não haverá distinção entre ricos e pobres, entre reis e súditos, entre presidentes, parlamentares e magistrados e os cidadãos comuns, entre Papa, Bispo, Padres e simples fiéis. A distinção só será entre bons e maus, e isso não na fama, mas diante de Deus, que tudo sabe.
Olhemos a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero. Confiemos na misericórdia de Deus, que é nosso Pai, que nos enviou seu Filho, Jesus, que morreu por nós, para que não nos condenássemos, mas que tivéssemos a vida eterna.
Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no Cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade! A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. E São Paulo, o Apóstolo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31). “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o encontre!... Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (Imitação de Cristo, I, XXIII).
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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