Crux Fidelis - A Paixão Expressa em Linda Poesia
A imagem da cruz expressa como uma árvore frondosa é lindamente cantada nos primeiros versos dessa sequencia, possivelmente a mais bela dentre todas cantadas na Semana Santa: Crux Fidelis.
Há uma longa história por trás desta imagem, que encontramos implícita no início do poema onde a cruz é referida como um troféu: “o nobre triunfo do troféu da cruz”. Essa palavra, “troféu” é particularmente apropriada aqui, pois a palavra latina, tropæum, referia-se originalmente ao “tronco de uma árvore no qual foram fixados os braços, escudos, capacetes, etc., tirados do inimigo”[1]
Ó Cruz fiel, entre todas a árvore mais nobre: Nenhum bosque produz igual, em ramagens, frutos e flores.Ó doce lenho, que os doces cravos e o doce peso sustentas.
Mais tarde tornou-se um monumento de pedra, mas aqui temos um retorno muito satisfatório ao significado original, pois certamente para nós o madeiro da cruz continua sendo o troféu da vitória de Cristo sobre Satanás. A comparação da cruz com uma árvore continua no versículo três, que retrata Deus marcando para uso futuro a árvore no Jardim do Éden onde Adão e Eva pecaram.
Venantius Fortunatus está aqui se referindo a uma tradição segundo a qual a cruz foi feita da madeira da árvore da ciência do bem e do mal. Esses três versos concluem um hino muito mais longo, cujo resumo publicamos no final deste artigo. Você deve ter notado que foi escrito por Venancio Fortunato, que também foi o autor de Vexilla Regis, que cantamos no Domingo de Ramos. E, se você examinar a versão completa, descobrirá que sua primeira linha - Pange, lingua, gloriosi - foi citada por São Tomás de Aquino na abertura de seu hino eucarístico (Quinta-feira Santa).
A exuberante ternura destes versos é um poderoso apelo à compaixão pelo Cristo crucificado. O poema personifica a cruz, convidando-a a suavizar sua dureza natural, paralelamente ao abrandamento de nossos corações endurecidos enquanto buscamos o porto da salvação para o qual, em uma metáfora complicada, o sangue de Cristo nos arrasta como uma onda do mar, levando sobreviventes de um naufrágio para a segurança.
Segundo os quatro evangelistas, São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João, o fato de Jesus ter sido crucificado ao pé do Calvário (em hebreu Gólgota), que significa "O Lugar da Caveira" não foi por mera conscidência, mas estava nos planos divinos, assim como outras coisas se cumpriram: «Repartiram entre si as minhas vestes, e tiraram à sorte a minha túnica». Atribuiu-se este nome, "Lugar da Caveira", porque o local, fora das muralhas da cidade, apresentava uma elevação que se assemelhava a um crânio, e era também o local onde os condenados à morte eram crucificados. [2]
Segundo uma tradição hebraica, contada por Orígenes (século III), afirma-se que Adão teria sido sepultado no Lugar no Gólgota, o mesmo local onde Jesus Cristo foi crucificado, seguindo a profecia: se a humanidade morria com Adão, ela poderia ressuscitar com Cristo. A caveira de Adão teria sido lavada pelo sangue de Cristo para que todos os filhos de Adão fossem remidos pelo "segundo Adão". Um templo que poderíamos considerar nesse local consiste numa pequena ábside, chamado "Capela de Adão".[3]
O Criador apiedado da maldição que ocorreu, quando do lenho vedado Adão o fruto mordeu, Para curar o pecado O mesmo lenho escolheu!.
O ponto é que Satanás pode ter exibido astúcia quando tentou Adão e Eva na árvore, mas Deus foi mais astuto ao escolher aquela mesma árvore para fornecer a madeira da cruz: “o Criador então marcou a madeira cujo o dano causado por uma árvore.” Encontramos aqui um tema que aparece sob várias formas: o instrumento da queda do homem tornou-se o instrumento da redenção. Uma coisa para a nossa contemplação seria a identificação de São Paulo sobre Cristo como o Novo Adão e uma citação onde é encontrada na identificação de Maria como a Nova Eva; a obediência de um anulou a desobediência do outro.
A trajetória de Jesus é brevemente descrita, começando na criação e continuando até “quando chegou a plenitude dos tempos, Ele nasceu de uma mulher”[4], destinado a ser o verdadeiro Cordeiro Pascal “levantado no madeiro da cruz. ”
O verso seis do Crux Fidelis é uma viagem pelas vias poéticas, em que Venâncio faz um paralelo entre os instrumentos da paixão e os elementos do universo: “o vinagre, o fel, a vara, o escarro, os pregos e a lança” correspondem à “terra, o mar, as estrelas ”, todos os quais são banhados na água redentora e no sangue que fluiu do lado de Cristo.
Esse hino antigo, consagrado por séculos de uso na Igreja, permanece significativo para nós até hoje. Nossa observância da Semana Santa, reforça por nossa leitura e releitura dele enquanto meditamos sobre o sacrifício que Jesus fez para renovar a humanidade, um sacrifício que se renova sacramentalmente quando mais uma vez nos reunirmos ao redor do altar para a a Santa Missa.
Crux Fidelis
Crux fidelis, inter omnes arbor una nobilis: nulla silva talem profert, fronde, flore, germine. Dulce lignum, dulces clavos, dulce pondus sustinet.
Pange lingua gloriosi lauream certaminis, et super crucis trophæo dic triumphum nobilem: qualiter Redemptor orbis immolatus vicerit.
Crux fidelis, inter omnes arbor una nobilis: nulla silva talem profert, fronde, flore, germine.
De parentis protoplasti Fraude Factor condolens, quando pomi noxialis in necem morsu ruit: Ipse lignum tune notavit, Damna lignus ut solveret.
Dulce lignum, dulces clavos, dulce pondus sustinet.
Aequa Patri Filioque,inclito Paraclito,sempiterna sit beatae Trinitati gloria, cuius alma nos redemit atque servat gratia.
Crux fidelis, inter omnes arbor una nobilis: nulla silva talem profert, fronde, flore, germine. (tradução em seguida).
Ó Cruz Fiel !
Ó Cruz fiel, entre todas a árvore mais nobre: Nenhum bosque produz igual, em ramagens, frutos e flores. Ó doce lenho, que os doces cravos e o doce peso sustentas.
Canta, ó língua, o glorioso combate [de Cristo],e, diante do troféu da Cruz, proclama o nobre triunfo: a vitória conseguida pelo Redentor, vítima imolada para o mundo.
Ó Cruz fiel, entre todas a árvore mais nobre: Nenhum bosque produz igual, em ramagens, frutos e flores.
O Criador apiedado da maldição que ocorreu, Quando do lenho vedado Adão o fruto mordeu, Para curar o pecado O mesmo lenho escolheu!
Ó doce lenho, que os doces cravos e o doce peso sustentas.
Glória e poder à Trindade, ao Pai e ao Filho louvor,honra ao Espírito Santo, eterna glória ao Senhor,que nos salvou pela graça e nos reuniu no amor
Ó Cruz fiel, entre todas a árvore mais nobre: Nenhum bosque produz igual, em ramagens, frutos e flores.
Traduzido e adaptado de
https://catholicinsight.com/good-friday-crux-fidelis/ Fr. Daniel Callam -
April 2, 2021
[1] traduzido por David Foley
[2] e [3] Arqueologia bíblica: http://geobibli.blogspot.com/2012/02/lugar-da-caveira-golgota-jerusalem.html
[4] Gal 4.4
Comments