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Festa de Cristo Rei - Estudo sobre o canto "Rogações Carolíngeas"

Ainda dentro da Solenidade de Cristo Rei - 29 de Outubro 2023 - trazemos aos nossos caros leitores uma reflexão sobre as Aclamações Carolíngeas. Muitos de nós as conhecemos e damos crédito ao autor ou autores pelo conjunto da obra, que une o texto litúrgico com a melodia, de maneira simples e dinâmica, mas com vivacidade.




Cristo é Aclamado Rei com toda sua magestade

O introito da Missa de Cristo Rei, por si só já fala por toda a liturgia do dia: "O Cordeiro que foi imolado, é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a fôrça e a honra. A Ele, a glória e o império por todos os séculos dos séculos. Ó Deus, dai ao Rei a vossa equidade, e ao Filho do Rei a vossa justiça."


A instituição da Festa

Para concluir solenemente o ano jubilar de 1925, o Santo Padre Pio XI instituiu a nova Festa de “Cristo Rei”. Seria esta solenidade uma insistente admoestação para a humanidade inteira reconhecer a Jesus Cristo, o Filho de Deus, como Rei universal do mundo. A Ele se sujeitem os Reis e os Príncipes, os Magistrados e Juízes, as artes e as leis (Hino das Vésperas). Cristo deve reinar no espirito dos homens pela fé, na sua vontade pela obediência às leis de Deus e da Igreja, seu Reino visível, nos corações pelo amor e ainda nos próprios corpos para que sejam santos para Deus (Encíclica). E preciso que o povo seja constantemente instruído a respeito desta verdade. “Uma solenidade anual terá mais eficácia para realizá-lo do que todos os documentos mesmo os mais graves do magistério eclesiástico” Os textos do Ofício divino, como os da Santa Missa, nos falam vivamente desta doutrina. Particularmente reparemos o fruto do Reinado de Cristo sobre os homens: Ele é o Rei, cujo império trará União e paz para a humanidade (Oração, Secreta e Communio). [1]



Laudes Regiae ou Aclamações Carolíngeas

Esse belíssimo canto que muito se assemelha às Sequencias, mas que não recebe as rubricas como tal,

muito reflete a essas Sequências, cantos salmódicos ligados de várias maneiras e por vários razões a outros cantos canônicos, geralmente mais antigos, que fazemos questão de lembrar:


  • Victimae paschali laudes para a Páscoa, composição de Wipo de Borgonha (1000 — 1046). (Obrigatório)

  • Veni sancte Spiritus para a solenidade de Pentecostes, com texto atribuído a Stephen Langton († 1228). (Obrigatório)

  • Lauda Sion para Corpus Christi, com texto de São Tomás de Aquino (1225 — 1274). (Facultativo)

  • Dies irae para a Missa de Requiem, com texto é atribuído a São Tomás Celano († 1256). (Em uso apenas no Rito Extraordinário)

  • Stabat mater para a festa de Nossa Senhora das Dores no dia 15 de Setembro, com texto atribuído a Jacopone da Todi († 1306). (Facultativo)

Então, o "Laudes Regiae" é composto dentro de um contexto onde procurava-se anexar novas configurações musicais , conforme citação na obra "GREGORIAN" CHANT, THE FIRST LITERATE REPERTORY, (CANTO "GREGORIANO", O PRIMEIRO REPERTÓRIO LITERADO,) publicado pela Universidade de Oxford [2]


Recordamos que as Sequentias (plural: sequentiae), ou em português Sequências, tem seus textos autorais, diferentes da grande maioria do repertório gregoriano que tem textos bíblicos, principalmente dos Salmos. Foram bastante utilizados, mas hoje são usados em solenidades específicas e, de maneira particular são mantidos nas missas celebradas na Forma Extraordinária do Rito Romano.


Este gênero de canto apareceu em meados do século IX desenvolvido de melodias já existentes. Melodias que eram orginalmente repetidos dos cantos aleluiáticos. Diferente destes, a sequencia era um canto silábico. Ou seja, não utilizava de melismas, mas sim uma nota para cada sílaba. E eram textos que utilizavam muitas rimas, conforme Alberto Medina (2012) em "Introdução ao Canto Gregoriano. Coimbrap. 121"


Teve sua origem na poesia latina clássica, e como forma específica derivou dos hinos paleocristãos, que alteraram o ritmo dos versos clássicos para serem mais facilmente cantados. A forma só foi fixada com o trabalho de Notker, o Gago, no século X, que popularizou-a publicando uma coletânea. (Catholic Encyclopedia)

Voltando as Rogações Carolíngeas, essa composição brota dos compositores da Schola Cantorum Francesa, na ânsia de trazer os textos invariantes da liturgia da missa, para certas ocasiões. Sem adesão, contudo dos cantos do período carolíngio ao Graduale Romanum, nota-se que esses textos - todos aclamações - adotados pelos francos refletem um amor pela pompa, muito provavelmente transferido do cerimonial cívico, como é o caso desse canto - objeto de nosso estudo - "Laudes Regiae", ou "Aclamações Carolíngeas", com as quais Carlos Magno foi aclamado após sua coroação.[3]





São aclamações que mostram a grandeza de Cristo, sua majestade, seu reino e seu império, com pedidos de súplicias e proteção da Majestade Divina. Feito de forma simples, [4]


Tanto o texto quanto a melodia do canto das Laudes Regiae têm uma história longa e complexa. A versão mais antiga do texto é encontrada em um manuscrito franco datado de cerca de 796-800. O texto compreende o agora famoso refrão ao lado de vários títulos e aclamações ao Papa e ao Sacro Imperador Romano, cada um introduzido com as palavras Exaudi Christe (“Ouve, ó Cristo!”). Após o dignitário nomeado segue-se uma lista de santos, com a resposta tu illum adjuva (“a ele [o Papa, o Imperador, etc.] dê ajuda”). Uma série de petições dirigidas a Nosso Senhor como “Rei dos Reis”, cada uma seguida do refrão Christus Vincit. [5]


O texto termina com uma série de saudações, incluindo a antiga aclamação imperial multos annos (“muitos anos!” ou “longa vida!”). As Laudes Regiae originais foram posteriormente adaptados para reis, bispos e papas. Podemos apenas especular sobre o contexto original da execução, mas alguns manuscritos antigos sugerem que pode ter sido cantada em dias festivos importantes, incluindo a Páscoa e o Pentecostes. [6]


Apesar da sua antiguidade e significado cultural, o "Laudes Regiae" recebeu pouca atenção dos compositores. No vasto período da polifonia renascentista, apenas Jean Mouton (c.1459-1522) e Mathieu Gascogne (d.1529) são conhecidos por terem composto versões harmonizadas do "Laudes Regiae". Acredita-se que ambos os motetos tenham conexões com o patrocínio real: Mouton compôs sua versão para comemorar a eleição do Papa Leão X em 1513, enquanto Gascogne parece ter sido criado seu aranjo para a coroação do rei François I da França em 1515. No início do século XVI , então, o texto manteve uma estreita associação com a autoridade civil.[7]


No link a seguir você poderá baixar um livreto com o Ritual para Abertura do Ano Paulino - 2008, inaugurado por S. Santidade o Papa Bento XVI (in memoriam) contendo as Rogações Carolíngeas como parte do Canto Sacro Litúrgico: https://www.vatican.va/news_services/liturgy/libretti/2008/20080628.pdf



Pelo menos duas configurações do texto foram compostas na França durante o século XIX. O primeiro foi do padre-compositor Auguste Chérion (1854-1904), publicado postumamente em 1931. O segundo é um cenário muito mais impressionante, composto em 1886 pelo grande organiste titulaire de La Trinité em Paris, Alexandre Guilmant (1937– 1911).





Guilmant compôs suas Laudes Regiae em grande escala: é composta para grande coro, orquestra sinfônica e órgão - embora possa ser facilmente executada como uma obra para coro e órgão, e seja facilmente acessível aos bons coros amadores. A primeira apresentação aconteceu na Catedral de Rouen em 1º de junho de 1886, durante uma festa solene em homenagem a Santa Joana D'Arc.[8]





Referências

[1]Páginas 1357 a 1360 do Missal Quotidiano (D. Gaspar Lefebvre, 1963).

[2]https://global.oup.com/us/companion.websites/fdscontent/uscompanion/us/static/companion.websites/taruskin/outlines/student/Chapter1_Outline_Student.pdf

[3]https://www.museunacional.cat/en/sant-climent-de-taull-christus-vincit

[4]Laudes Regiæ na Celebrazione Eucharistica per L'Inizio del Anno Giubilare di San Vincenzo Ferreri (em espanhol).


Outras Fontes:

"Medievalismo Moderno: As laudes regiae: Cristo vence". 29 de outubro de 2012. Arquivado do original em 7 de outubro de 2015. Recuperado 26 de agosto 2015.

Woolley, Reginard Maxwell (1915). Ritos de Coroação. Cambridge University Press

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