O Tempo da Paixão
Domingo de 1ª Classe – Missa Própria – Estação em S. Pedro
No lugar em que S. Pedro seguiu o exemplo de seu Mestre, morrendo na cruz, quer também a Igreja associar-se à Paixão de Nosso Senhor. Jesus Cristo, o Medianeiro entre Deus e os homens, inocente Ele mesmo e sem mancha, se oferece como o Sacrifício de expiação pelos homens (Epístola). Nestas palavras está expresso o sentido da Missa de hoje, pois nela Jesus repete o mesmo Sacrifício (Communio).
Enquanto os judeus blasfemam contra o Senhor, nós dizemos: “Senhor, eu Vos louvarei.” E à palavra de Jesus: “Se alguém guarda a minha palavra não verá a morte para sempre”, nós respondemos: Beneficiai vosso servo, para que viva e observe os vossos preceitos.
Velatio
No Primeiro Domingo da Paixão cobrem-se com véus roxos os Crucifixos e as imagens e quadros nas igrejas. É um costume ligado às duas últimas semanas da Quaresma, através do qual se deseja centrar a atenção dos fiéis no Mistério da Paixão do Senhor. O motivo principal para isso é para que os fiéis não “se distraiam” com os Santos e que a sua devoção deve estar fundamentada no Mistério Pascal de Cristo, ou seja, na Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Cobrindo-se todas as imagens dos Santos e os crucifixos, surge com maior evidência o que há de essencial nas igrejas: o altar, onde se opera e eterniza o Mistério Pascal de Cristo, por seu Sacrifício incruento. Com os sinais externos da penitência, do recolhimento, da purificação da visão e do coração de tudo o que é secundário ou mesmo supérfluo, pode-se concentrar o sentir, pensar e agir no Cristo Crucificado. Com os olhos fixos no Senhor, percorrendo com Ele a Via Dolorosa, chegar-se-á às núpcias do Cordeiro Redivivo, à Páscoa da Ressurreição.
As cruzes ficam cobertas até o final da liturgia da Sexta-feira Santa, os quadros e demais imagens até a celebração da noite de Páscoa. O sentido profundo desse ato de cobrir as imagens sacras fundamenta-se no luto pelo sofrimento de Cristo, Nosso Senhor, levando os fiéis a refletir e meditar, ao contemplar esses objetos sagrados cobertos do roxo, cor que simboliza a tristeza, a dor e a penitência. O ápice do despojamento ocorre após a Missa In Coena Domini (Missa da Ceia do Senhor), na Quinta-feira Santa, quando retiram-se as toalhas do altar.
A cruz coberta lembra-nos a humilhação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que teve de ocultar-se para não ser apedrejado pelos judeus, como nos relata o Evangelho segundo São João:
“Os judeus pegaram pela segunda vez em pedras para o apedrejar. Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de meu Pai. Por qual dessas obras me apedrejais? (…). Procuraram então prendê-lo, mas ele se esquivou das suas mãos. Ele se retirou novamente para além do Jordão, para o lugar onde João começara a batizar, e lá permaneceu.” (Jo 10, 31-32; 39-40)
No Missal, terminada a Missa do Sábado que precede o Domingo da Paixão, vem esta rubrica:
“Antes das Vésperas, cobrem-se as Cruzes e Imagens que haja na igreja. As Cruzes permanecem cobertas até ao fim da adoração da Cruz, na Sexta-Feira Santa, e as Imagens até ao Hino dos Anjos (Glória a Deus nas Alturas) no Sábado Santo”.
O Tempo da Paixão - Reflexão
1. Significação deste Tempo.
Com o Domingo da Paixão, iniciamos a terceira fase da preparação para a Páscoa. A Igreja concentra toda a sua atenção no Senhor que padece, e O acompanha em seu caminho de dores, que, pelo ódio e pelas hostilidades dos judeus, conduz até o Calvário. Assistimos ao conflito entre o Salvador e os seus inimigos que Lhe recusam acolhimento. O ódio destes já não procura dissimular-se e, cada vez mais crescente, prorrompe em grosseiras injúrias contra Aquele que, qual bom Samaritano, vai curar-lhes as feridas e libertá-los da morte eterna. O Salvador, às injúrias que Lhe fazem, chamando-O de sedutor, blasfemo, possesso do demônio, responde com toda a calma. Ele bem sabe porque assim o fazem. É vontade de seu Pai que Ele sofra por aqueles que assim O perseguem. Na realização de seus desígnios os adversários do Cristo são apenas instrumentos de que Deus se utiliza para a execução de seus eternos decretos. Sobre o Madeiro da Cruz, Jesus alcança a vitória final (Prefácio da Santa Cruz).
2. Nossos sentimentos durante este Tempo.
Embora Deus, Jesus Cristo sofreu todas as atrocidades das dores físicas e morais. A natureza humana padece, geme, procura a salvação. Neste sentido a Igreja compreende os Cânticos das Missas destes quinze dias. E nós, com toda a confiança que temos na vitória final, não deixamos de abismar-nos nas dores de nosso Salvador. Aumente em nós a dor por nossos pecados que Lhe custaram tantos padecimentos. Aumente em nós o amor por nosso Jesus que tanto sofreu por todos os homens!
3. Particularidades deste Tempo.
Para bem demonstrar a sua compaixão pelo Esposo, a Igreja omite nestes dias todas as demonstrações de alegria. Não se diz o salmo Judica, ao pé do altar, nem o Glória Patri. São veladas nas igrejas as imagens e os próprios Crucifixos, em sinal de tristeza. Desaparecem, quase por completo, nestes dias, as referências aos catecúmenos e às igrejas estacionais. A Igreja quer que nos concentremos o mais intensamente possível sobre a Paixão de Jesus e gravemos profundamente em nossas almas o Mistério de nossa Redenção.
Fontes:
Missal Quotidiano – D. Beda Keickeisen – 1962, p. 285.
https://www.icatolica.com
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