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Pertinácia no Erro


Dom Fernando Arêas Rifan*


No seu recente livro “O crepúsculo do mundo”, o cineasta alemão Werner Herzog conta a incrível história real do tenente japonês Hiroo Onada, que passou 30 anos isolado numa ilhota das Filipinas, acreditando ainda estar lutando na Segunda Guerra mundial. O Japão já tinha se rendido em 1945, mas Onada continuou na selva, pensando lutar ainda pelo seu país, vivendo em condições quase insuportáveis, com seu rifle e sua espada de samurai em prontidão.

As notícias de que a guerra tinha terminado, ele as explicava como teoria da conspiração. E, obcecado com essa ideia, aduzia como argumento o sobrevoo de aviões da Coréia e do Vietnã no céu ao longo dos anos, interpretando como a confirmação de que a Segunda Guerra não tinha acabado. Obsessão e pertinácia que duraram 30 anos.

Curioso também foi o caso do desastre do vôo Varig 254, com o Boeing 737-241, em 3 de setembro de 1989, com 54 passageiros e tripulantes a bordo, dos quais doze morreram no momento do acidente ou no tempo de espera do resgate. O voo estava sob o comando do capitão César Augusto Padula Garcez, 32 anos de idade e quase sete mil horas de voo (sendo quase mil horas no Boeing 737-241) e do copiloto Nilson de Souza Zille, 29 anos de idade e 884 horas de voo, (sendo 442 horas no Boeing 737-241).


A explicação dada para o acidente foi a seguinte: o comandante Garcez, na hora de programar os instrumentos do avião com a rota 027,0, optou pela rota 270. Assim, erradamente, por causa de uma vírgula, o piloto levou o avião para oeste, em vez de seguir ao norte, em direção a Belém. Após voar mais de três horas, já sem combustível, Garcez fez um pouso forçado numa área de mata fechada, no estado do Mato Grosso.


Sem julgar a culpabilidade dos pilotos, o que não nos compete, o que nos interessa aqui é a pergunta: como pode um comandante experiente cometer tal erro, e, ao perceber que tinha errado, não tenha se corrigido? E o copiloto? A explicação que deram os psicólogos na época foi um bloqueio psicológico, a impossibilidade da mente humana de reconhecer o erro, a pertinácia no engano e a falta de humildade de enxergar o óbvio, pela certeza de que estava correta. Mas não estava. É assim que a nossa inteligência, às vezes, não consegue perceber o óbvio, induzida pela vontade, cega pelo orgulho, não admitindo estar errada.


Assim também, quando uma pessoa está obcecada por uma ideia, fanatizada, fica cega a quaisquer argumentos contrários. Misteriosa essa teima da inteligência humana, na permanência no erro! Segundo a filosofia, a inteligência não é livre diante da verdade, tem que aceitá-la, pois se trata do seu objeto próprio. Como o olho sadio aberto, diante da luz, não pode não ver. A não ser que a vontade, influenciada por paixões, a force a rejeitar a verdade óbvia. É o que muitas vezes acontece: a vontade, influenciada pelas paixões, como o orgulho, a vaidade, não permite a razão perceber a verdade e o erro em que está caindo. Torna-se completamente cega.


Que Deus nos livre da cegueira da inteligência e da pertinácia fanática no erro!


*Bispo da Administração Apostólica Pessoal

São João Maria Vianney





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