Quarta Feira de Cinzas
"Convertei-vos a Mim – diz Ele – de todo o vosso coração. A Quaresma é uma viagem que envolve toda a nossa vida, tudo de nós mesmos. É o tempo para verificar as estradas que estamos a percorrer, para encontrar o caminho que nos leva de volta a casa, para redescobrir o vínculo fundamental com Deus, do qual tudo depende. A Quaresma não é compor um ramalhete espiritual; é discernir para onde está orientado o coração. Aqui está o centro da Quaresma: para onde está orientado o meu coração? Tentemos saber: Para onde me leva o «navegador» da minha vida, para Deus ou para mim mesmo? Vivo para agradar ao Senhor, ou para ser notado, louvado, preferido, no primeiro lugar e assim por diante? Tenho um coração «dançarino» que dá um passo para a frente e outro para trás, amando ora o Senhor ora o mundo, ou um coração firme em Deus? Sinto-me bem com as minhas hipocrisias ou luto para libertar o coração da simulação e das falsidades que o têm prisioneiro?"
"A viagem da Quaresma é um êxodo: é um êxodo da escravidão para a liberdade. São quarenta dias que recordam os quarenta anos em que o povo de Deus caminhou pelo deserto para voltar à terra de origem. Mas, como foi difícil deixar o Egito! Mais difícil do que deixar a terra foi tirar o Egito do coração do povo de Deus, aquele Egito que traziam dentro… É muito difícil deixar o Egito! Ao longo do caminho, nos seus lamentos, sempre se sentiam tentados pelas cebolas, tentados a voltar para trás, presos às memórias do passado, a qualquer ídolo. O mesmo se passa conosco: a viagem de regresso a Deus vê-se dificultada pelos nossos apegos doentios, impedida pelos laços sedutores dos vícios, pelas falsas seguranças do dinheiro e da ostentação, pela lamúria que paralisa. Para caminhar, é preciso desmascarar estas ilusões.
S.S.Papa Francisco,
Fonte Vatican News /Fev2021
Origem da celebração
Do trecho do Evangelho de Marcos foi extraída a fórmula que acompanha a imposição das Cinzas Sagradas, permitidas para todas as celebrações do dia. Com este simples gesto no início deste período litúrgico, evidencia-se, além do aspecto penitencial, também o tempo da conversão, da oração assídua e do regresso ao Pai Celeste."
Segundo a antiga praxe, o sacramento da penitência era público e constituía de fato o rito que dava início ao caminho de penitência dos fiéis que seriam absolvidos na celebração da manhã da Quinta-feira Santa. Mais tarde o gesto da imposição das Cinzas – obtidas queimando os ramos de oliveiras benzidas no Domingo de Ramos do ano anterior – estendeu-se a todos os fiéis e foi colocado dentro da celebração da Missa, no final da homilia. Também a fórmula que acompanha, com o tempo foi mudada: no início era “recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar!” extraído do Gênesis. Além disso, ainda hoje o rito Ambrosiano é diverso do Romano porque não consta a imposição das Cinzas e a Quaresma inicia no domingo seguinte.
O significado bíblico das Cinzas
As cinzas sagradas que são colocadas na fronte estão presentes no texto bíblico várias vezes e assumem um significado duplo. Antes de tudo indica a frágil condição do homem diante do Senhor, como evidencia Abraão que fala a Deus no Gênesis: “Abraão prosseguiu e disse: ‘Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza’” (Gên 18, 27). Jó também sublinha o profundo limite da própria existência: “Arremessam-me ao lodo e eu me confundo com a poeira e a cinza” (Jó 30, 19). Assim como outros exemplos do Livro da Sabedoria e do Eclesiástico: “De repente nascemos, e logo passaremos, como quem não existiu. Fumaça é a respiração em nossas narinas e o pensamento, uma centelha ao pulsar do coração: quando ela se apaga, nosso corpo se tornará cinza e o espírito se dispersará como o ar inconsistente. (Sab 2, 2-3);
“Por que se ensoberbece quem é terra e cinza, aquele que ainda em vida expele as próprias entranhas? (Eclo 10,9)."
Também, as cinzas são um sinal concreto de quem se arrependeu e com o coração renovado retoma o próprio caminho para o Senhor, como se lê no Livro de Jonas no qual o rei de Nínive, ao receber a notícia da conversão do seu povo, senta-se sobre as cinzas, e no de Judite no qual os habitantes de Jerusalém que querem rezar a Deus para que os liberte, espalham em suas frontes as cinzas sagradas.
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