Uma crônica em forma de parábola.
Certo dia, estava em casa, sozinha, uma jovem de uns quinze anos. Seus pais e parentes tinham ido a uma festa. De repente, a porta da casa foi arrombada e entram uns bandidos, armados, com o seu chefe à frente. A moça, assustada, põe-se de pé e é abordada pelos malfeitores. Mas eles não querem roubar nada nem lhe fazer mal. O chefe traz nos braços um bebê prematuro de umas 22 semanas, recém-saído do hospital. Ele diz ser seu filho e procura alguém que cuide dele. Ele entrega o seu filho à moça e se retira.
A moça, apavorada, mas com pena do bebê, estava com essa criança no colo quando, depois de algum tempo, seus pais chegam da festa. Ela lhes conta o ocorrido.
O que fazer dessa criança? Ela não foi desejada por aquela jovem. Foi fruto de uma violência. O pai é certamente um monstro. A moça ainda não estava preparada para ser mãe. Nem querida por aquela família. Qual seria a solução? Matar essa criança, como se fosse um aborto? Nem pensar! Seria um assassinato, um crime hediondo. E eles, a jovem principalmente, ficariam com esse trauma para o resto da vida. Melhor solução seria a família criar aquele bebê ou entrega-lo a uma família que quisesse adotá-lo. São muitas que querem isso: há filas enormes desejando uma criança para adoção.
Faz-me lembrar de um artigo que já escrevi sobre o assunto: um lugar perigoso!
Quando uma vida humana em gestação é assassinada, sob qualquer pretexto, é no útero materno que tal crime acontece, portanto no lugar mais sagrado do mundo, e, deveria ser, no lugar mais protegido por todas as leis.
Se uma criança já está fora do útero materno, após seu nascimento, não importando o tempo de sua gestação, até bem antes dos nove meses normais, ela é protegida por lei, em qualquer país civilizado, e seu assassinato é por todos considerado um crime hediondo. Todos condenam o infanticídio, seja por que pretexto for.
Mas se a criança ainda está no útero materno, a proteção não é tão segura e ela não é tão protegida pela lei, dos homens, é claro, variável segundo a determinação dos homens que fazem as leis ou as interpretam. Eles assim, colocando-se no lugar de Deus, pretendem determinar até quando e onde a vida deve ser protegida ou não, até quando vale a pena ser vivida ou não.
Se uma criança, produto de um estupro, nasceu, mata-la é infanticídio. Mas no útero materno, em certos casos e tempo, seria lícito! Se um bebê nasceu, está nos braços da mãe ou no berçário, mata-lo seria crime hediondo. Mas, se ainda está no útero materno, segundo certas leis e circunstâncias pode ser morto, sem problemas. Absurdo!
Assim, o útero materno, ao invés de ser um lugar seguro, tornou-se, por vontade dos homens, um lugar perigoso e arriscado. Fora dele se estaria seguro. Nele, corre-se o risco de ser assassinado sem maiores problemas. É a lógica dos homens, que pensam ser Deus.
+D. Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Perfeito 👏🏾 👏🏾 👏🏾 👏🏾